Shakespeare é o mesmo para todos?

Movida por essa questão a antropóloga americana Laura Bohannan escreveu um texto chamado "Shakespeare no meio do mato" (Shakespeare in the bush), no qual relata sua tentativa de fazer com que uma tribo africana compreenda Hamlet. O resultado dessa experiencia é que, ao ser várias vezes questionada pelos membros da tribo sobre o comportamento das personagens shakespearianas, ela própria acaba por modificar seu entendimento da obra e sua percepção acerca do humano e do intercambio cultural.

Li este texto hoje de manhã e resolvi compartilhar pois acredito que as dificuldades dela em narrar uma história em muito se relaciona com os nossos questionamentos advindos do primeiro contato com o "Rei Lear". Isto é, como podemos contar essa história?

Da mesma forma, a postura do chefe da tribo, que a todo momento faz interferências e problematiza aquilo que está sendo contado por Laura, é um exemplo para nós que tanto tememos questionar Shakespeare e sua obra. Sobre sua dificuldade de acreditar no suicídio de Ofélia, por exemplo, o chefe diz"Quanto a garota, ela não apenas enloqueceu, mas foi afogada. Apenas as bruxas podem fazer as pessoas se afogarem. A água, por si só, não pode machucar ninguém. É simplesmente algo que as pessoas bebem e em que se banham.", e o chefe diz isso sem medo algum de trazer seus conhecimentos e crensas a tona, sem vergonha de brigar com aquilo que não compreende.

Espero que essa postura nos sirva de exemplo para fazermos nossa própria leitura de Lear, para que coloquemos nossas questões ao texto e possamos nos identificar com aquilo que lemos sob os mais diversos aspectos. Beijo a todos!

O texto de Bohannan está disponível em 38 páginas na versão em Inglês ou das páginas 141- 159 ( pag 7- 25 do documento em pdf) na versão traduzida por um grupo da faculdade anhanguera. Apesar de parecer grande, o texto é uma delicia de ler... rapidinho gente, vale a pena!