domingo, 28 de agosto de 2011

AVALIAÇÃO DO MÊS DE AGOSTO

O mês de agosto foi marcado pela composição do grupo de trabalho deste semestre. Mês onde o conhecimento de si e do outro foi realçado nos exercícios propostos pelo professor Felipe Menezes. Como o trabalho teatral necessita de sinergia para se chegar ao fim proposto, no nosso caso o desenvolvimento artístico individual e a montagem de uma obra teatral, os exercícios trouxeram grande avanço ao grupo, como por exemplo, a capacidade de concentração adquirida durante os ensaios.
O grupo mostra-se empenhado com as atividades e com as propostas. Há um princípio de trabalho comum, que gradativamente se potencializa mais com os exercícios que envolvem a superação pessoal, que se converte automaticamente em superação grupal.
A participação ativa é alcançada com atividades que propõem a criação coletiva para demonstração a outros pequenos grupos, deixando bem exposto a proposta artístico-pedagógica que atualmente é a mais difundida: Fazer, Fruir e Refletir. A construção, a contemplação e o diálogo entre produtores e apreciadores.
Cabe agora tecer uma crítica, pois é comum nesta fase final a reflexão ser proveniente do educador, abrindo espaço de comentário somente depois das críticas sobre todos os grupos, perde assim o caráter de reflexão sobre a obra, e passa a ser reflexão sobre o indivíduo no exercício. Os dois aspectos são importantes para o crescimento do grupo como um todo. Então aqui friso que a reflexão nos dois modos, sobre a obra e sobre o sujeito na ação, poderia ser melhor explorada.
Faz-se necessário a melhor delimitação dos objetivos nos exercícios de criação em grupo para que o ator-educando busque em sua atividade a melhor conscientização dentro do processo. Buscando como exemplo os conceitos de Viola Spolin, o conceito de foco poderia favorecer o trabalho como um todo, pois o ator-educando tornar-se-á mais consciente durante o exercício.
De modo geral o crescimento ao longo do mês foi notável. Tanto a preocupação do educador com as atividades, quanto os educandos dentro do processo participando ativamente. Noto ainda alguns desejos pessoais sobressaindo em relação ao grupo, mas isso é normal quando se trata de uma sociedade ocidental que busca o caminho da perfeição e da felicidade como condicionante para uma vida digna.

Para uma Auto-avaliação, ou Por que fazer teatro?

Como exposto no final do parágrafo anterior, me coloco nesta situação de buscar a qualquer custo a perfeição, acreditando que esta possa servir como alavanca para a tal felicidade condicionante. Sinto-me extremamente ocidental por este motivo. E com isso busco os desafios do teatro, pois é a arte que melhor soube representar e interpretar o pensamento e desenvolvimento humano ocidental. Como afirmei que o mundo ocidental busca a perfeição ao alcance da felicidade, o teatro contemporâneo busca orientar-se dentro desta temática também.
Não é a toa que os exercícios propostos dentro do grupo tentam estimular a superação no nível corporal, intelectual e sensitivo. A palavra “superação” tornou-se lema do grupo durante uma semana neste mês de agosto.
Mas quando não se supera? És então um fracassado?
O mundo ocidental prega que sim. E afirma com propriedade esta questão. Talvez o protestantismo calvinista foi o que trouxe as claras este pensamento: Tem de ter sucesso aos olhos do Senhor!. E com essa possível frase, Calvino pôde alicerçar o capitalismo ocidental, como bem notou Max Weber¹.
Quero dizer que o capitalismo seja culpado, ou o protestantismo? Não! Apenas ponho em questão a problemática da felicidade a qualquer custo, o fator do sucesso e a busca incessante da perfeição. Posso assim me avaliar como mais um doente dentro do “mundo ocidental”. Também significa que nego a cultura ocidental? Também não! Os orientais com suas atividades de meditação, o que buscam é anular os efeitos do tempo, numa letargia próxima da morte celular.
Questiono sim, o ser humano. E assim me questiono: Será que é tão importante saber pular uma corda, ou saber onde “Jesus pára”? Caso diga que não (e assim me torno advogado do Diabo), o mundo ocidental cai sobre a minha cabeça me taxando de fraco. Caso diga que sim, estarei somente reafirmando o pensamento coletivo de meu tempo, o mundo capitalista que busca a felicidade a qualquer preço.
Mas posso também encarar os exercícios como uma obra coletiva; a busca da comunhão; a busca do encontro; do meu encontro com demais seres humanos que também se questionam sobre a felicidade, sobre a perfeição, sobre possíveis imposições de um mundo capitalista onde abriga o “demo”.
O meu desenvolvimento dentro dos exercícios tem se baseado nesta última análise: exercícios para o avanço da obra em seu aspecto coletivo. Porém, o grupo pertence a um mecanismo social escolar, logo deveria buscar o desenvolvimento pessoal primeiramente; e assim regresso com a temática.
Finalizo minha auto-avaliação deixando exposto o conflito que travo com o teatro como um fazer “artístico-escolar”. De repente, outros colegas possam estar neste dilema, e assim aceno: “Vós não sois os únicos, companheiros!”
Filipe Rossi.


¹ Filósofo Alemão, Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

3 comentários:

  1. Utópico demais crer num desenvolvimento pessoal em prol do coletivo? Na superação como elemento de coesão?
    É! e daí?
    tamo junto!!! bjo

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  2. O mês de agosto foi o mês do conhecimento, do encontro, das novas buscas. O grupo tem se mostrado bem disposto e interessado nas atividades propostas. De uma maneira ‘quase que’ dialética você expõe a sua forma de encontro e conhecimento pessoal-comunitário nesse curto tempo. Chama-me a atenção o fato de que alguns exercícios simples como a corda, a cadeira, o Jesus, pode ter para alguns um valor de outras ordens e natureza. No fundo, cada um vê aquilo que sabe ou quer ver. Muito bom, Filipe.

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